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Quando e como vai acabar a pandemia do COVID19?

 A globalização levou o coronavírus em uma volta pelo mundo, contaminando todos os continentes e inúmeros países. Somente quando a Organização Mundial da Saúde declarou Estado de pandemia que muitos líderes se deram conta do problema. Com o caos instaurado, é inevitável se questionar quando e como o isolamento social vai acabar.

Para abordarmos as possíveis respostas, antes é válido comentarmos o que é ciência, e falarmos sobre a metodologia científica. A ciência só é tão incrível e factível, por causa do método, da receita. Observações, levam a questionamentos, que podem ser testados, interpretados, repetidos, falseados, colocados a prova, testados novamente, atualizados. Assim descobrimos a origem das espécies, criamos vacinas, levantamos prédios. E é desta forma, que cientistas conseguem conhecer um novo vírus, os efeitos do isolamento social, da quarentena, número de casos e de mortes.

Política e economia também precisam ser embasadas em evidências sobre a melhor maneira de enfrentar a pandemia. As escolhas de cada governo determinarão como e quando será o fim deste período emergencial para cada nação. A província de Hubei na China, cenário onde teve início o surto de coronavírus, começou a reabrir suas fábricas, fechou os hospitais de campanha, e agora, passados 3 meses, começa a vislumbrar o possível porém lento e cauteloso fim do isolamento social. Enquanto isso, Itália e Estados Unidos que tardaram em tomar medidas para se prevenir, diagnosticar e combater o coronavírus, atingiram recordes de pessoas morrendo por COVID-19 (a síndrome aguda respiratória causada pelo SARS-CoV-2) em um único dia.

As particularidades de cada país e políticas de enfrentamento ao coronavírus são variáveis determinantes para a equação que pode prever o avanço e o fim da epidemia em cada região. A China usou de medidas de isolamento e testagem em massa, chegando a testar até 10.000 pessoas em um único dia, fechou comércios, escolas e fronteiras rapidamente, mediu a temperatura das pessoas, rastreou aqueles com quem os infectados tinham tido contato, testaram e isolaram. Agora vivem um momento de casos praticamente zerados. O perigo agora é outro, uma volta brusca as atividades pode levar a uma segunda onda de casos e mortes, já que é pouco provável que uma parte relevante da população tenha se tornado imune (apesar de quase 100 mil casos, lembre-se que a China é o país mais populoso do planeta). Por isso o retorno será gradual e embasado em dados epidemiológicos e mantendo distanciamento social e vasta testagem na população. O mundo inteiro monitora e aguarda, com esperança, o retorno de Hubei as atividades como aulas presenciais e reabertura do comércio.

Imagem 1, comparativo do número de casos de casos confirmados entre países da América Latina a partir do
centésimo caso confirmado. Atualizado no dia 05 de Abril de 2020.

Observar a China e países vizinhos da Ásia em que o vírus não tomou a proporção que tomou na Itália, França, Espanha e Estados Unidos, pode ensinar muito sobre como combater e parar o vírus em vez de tão somente torná-lo lento (como foi/é o objetivo da Europa e do Brasil). Mas para aprender, é necessário querer ouvir, e pôr em prática tanto quanto possível.

Ficheiro:COVID-19 Outbreak World Map.svg – Wikipédia, a ...

Figura 2, imagem de 7 de abril. 

O Ministro da Saúde brasileiro, Luiz Henrique Mandetta disse haver dinheiro para comprar testes, mas não haver disponibilidade no mercado, devido a alta demanda. Assim, seguimos com alta subnotificação, nem todos que apresentam sintomas recebem o teste, a maioria recebe a orientação do isolamento tão somente. O sistema de saúde brasileiro não tem a possibilidade de bater de porta em porta medindo temperatura de cada cidadão como na China, ou implementar um sistema de rastreio em que só quem está negativo pode circular. Esses são alguns dos motivos pelos quais não declaramos guerra contra o coronavírus: não estamos impedindo que ele aconteça, tentaremos mudar como ele vai acontecer. Minimizar o impacto, e evitar que o sistema de saúde entre em colapso. Um sistema de saúde colapsado, significa que pessoas que poderiam viver, acabam morrendo pela falta de cuidados médicos apropriados. A chegada de vacinas e novos tratamentos, deve demorar mais do que o período previsto para quarentena, aproximadamente um ano.

O desenvolvimento de uma vacina leva tempo para que se garanta duas coisas: segurança e eficácia. Não é preciosismo, uma vacina precisa imunizar e não infectar, além de não causar outros problemas potenciais. O tratamento específico, seja a cloroquina ou não, deve também dispor destes dois parâmetros. E para se descobrir, tanto vacinas quanto medicamentos, são necessários testes em laboratório e testes clínicos controlados e replicados. Coisas que não acontecem do dia para a noite. A inteligente tática atual é testar a eficácia de remédios já existentes na COVID19, entretanto a cloroquina parece ser uma aposta precipitada e pouco embasada. Outra possibilidade, é a imunização através de soro de pacientes recuperados.

Para aqueles que leram até aqui esperando uma estimativa em data, sinto desapontar. É uma estimativa instável e que pode ser simplesmente ignorada pelo governo federal. Nos Estados Unidos por exemplo, apesar de serem o novo epicentro da doença, Donald Trump chegou a declarar que esperava ver as igrejas cheias na páscoa. Em uma semana, quando os casos dispararam em Nova Iorque, ele mudou de posição e estendeu o isolamento social até o fim de abril.

Em um cenário geral, as estimativas variam de 2 a 4 meses até 2 anos.  Em cenário muito otimista, em Julho. Outubro é uma estimativa mais plausível para uma diminuição relevante de casos e caos. Em um cenário menos otimista, dois anos. Há também a possibilidade intermitente, de que nossa vida sem isolamento social aconteça em função do número de casos x leitos, ou seja, se o número de casos aumentar, retornamos à quarentena, ao aumentar os leitos disponíveis voltamos às ruas.

Nos manteremos alertas sobre a situação brasileira e mundial, e assim que possível, retornaremos com novas previsões. Aos que leem em inglês, recomendo assinar a newsletter da Nature, que mantém atualizações de como anda a batalha Homo sapiens x SARS-CoV-2. Como nem só de coronavírus se deve falar, voltaremos semana que vem aos posts semanais divulgando e discutindo ciência!

Compartilhe conosco o que achou do texto e como está sua produção e vida em quarentena!

Um abraço (a 2 metros de distância),

Equipe Pint


Para ler mais:

Sobre os possíveis cenários https://www.thedailybeast.com/four-ways-experts-say-coronavirus-nightmare-could-end

Sobre a cloroquina http://revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2020/03/19/ninguem-provou-que-hidroxicloroquina-cura-covid-19

Gosta de vídeos? https://www.youtube.com/watch?v=zF2pXXJIAGM  https://www.youtube.com/channel/UCdKJlY5eAoSumIlcOcYxIGg

Mandetta sobre o sistema de saúde em colapso https://www.youtube.com/watch?v=-3aYlcR3ftA

Para acompanhar a pandemia em números https://www.as-coa.org/articles/where-coronavirus-latin-america
https://www.covidvisualizer.com/
https://veja.abril.com.br/saude/coronavirus-no-brasil-devemos-comemorar-a-queda-no-numero-de-novos-casos/
http://revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2020/04/03/brasil-rumo-eua-covid

Must reads https://www.nature.com/articles/d41586-020-00758-2

Sobre como ele é bom em infectar https://www.nature.com/articles/d41586-020-00660-x

Sobre subnotificação https://www.nature.com/articles/d41586-020-00760-8

Se você pensa em entrar na onda das máscaras https://www.theatlantic.com/health/archive/2020/04/coronavirus-pandemic-airborne-go-outside-masks/609235/?utm_source=Nature+Briefing&utm_campaign=6b864133d1-briefing-dy-20200403&utm_medium=email&utm_term=0_c9dfd39373-6b864133d1-43824741  https://www.instagram.com/p/B-pwlDDFBJI/?utm_source=ig_web_copy_link

Sobre a volta as atividades por parte da China https://www.nature.com/articles/d41586-020-00938-0

O que é afinal uma pandemia? http://eurekabrasil.com/o-que-e-uma-pandemia/

Sobre anti-soro terapia https://www.nature.com/articles/d41586-020-00895-8

https://www.sciencemag.org/tags/coronavirus