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Você conhece o FameLab? 

É a maior competição de divulgação científica do mundo! Organizado pela Cheltenham Science Festival na Inglaterra desde 2005, é realizado em parceria com o British Council por mais de 30 países! O objetivo é: comunicar ciência com carisma, clareza e conteúdo! Tudo isso em apenas três minutos. Cada país seleciona dentre os inscritos os semifinalistas que recebem treinamento com especialistas e desse grupo, de uma nova rodada de apresentações saem os dez finalistas e então é nomeado o vencedor nacional! Os vencedores nacionais representam seu país em uma competição unificada final, podendo haver dois ganhadores: o/a selecionado pelo júri presente e o/a selecionado pela audiência. O FameLab Brasil deste ano foi ao ar pela TV Cultura, e está disponível aqui. 

Entrevistamos a Gabriela Leal, vencedora do FameLab Brasil 2020 e vencedora do FameLab Internacional 2020 pelo voto da audiência! Confira:

Gabriela Leal é médica veterinária, Mestre e Doutora em Clínica e Reprodução Animal pela Universidade Federal Fluminense. Gabriela foi docente da Universidade Castelo Branco (UCB) na área de embriologia veterinária e atualmente é pós doutoranda com experimentos relacionados a otimização da maturação in vitro, com foco na conservação de felídeos selvagens ameaçados de extinção.

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Gabriela Leal, no ambiente de trabalho.

 Cerveja favorita: Cerveja amanteigada, de Hogsmeade.

       1. O que te trouxe até a ciência?

       Eu acredito que a curiosidade! Não só a curiosidade de entender porque as coisas acontecem ou como elas acontecem. Mas acho que a curiosidade de entender até quanto alguma se comporta de determinada maneira...qual o nível de impacto de algo sobre algo diferente e como influenciar isso. Acho que a curiosidade me levou a me encantar pelo método científico em si. Mas isso foi antes que eu entendesse o que era, de fato, ciência. Eu entrei na vida acadêmica porque sempre amei à docência sem imaginar que me veria também encantada pela pesquisa científica.

       2. Por que você quis fazer divulgação científica?

      Começou como uma necessidade pessoal: traduzir ciência para os meus. Minha família é muito unida. Todos são muito participativos na vida uns dos outros e eles não tem uma formação acadêmico-científica. Por isso, A possibilidade de conversar com meus familiares e amigos sobre o que eu faço, me despertou para a importância de trazer alguns assuntos de forma mais simples.  

       Quando minha avó teve câncer, não tiveram coragem de contar pra ela. Ela era de uma época onde esse tipo de diagnóstico era uma sentença de morte iminente. Eu fui a responsável por transmitir a mensagem, falar do mecanismo de ação da doença e do tratamento, de forma que ela entendesse. Isso me fez refletir sobre todas as pessoas que precisam de mais clareza acerca de assuntos que não dominam, mas que as envolve direta ou indiretamente. A partir disso, essa vontade foi sendo construída aliada a um senso de responsabilidade social. A ciência é realizada em prol da sociedade e financiada por ela. Ainda assim, as pessoas em geral, não entendem como ela funciona ou a sua importância nas suas vidas e justamente por isso, elas não a valorizam.

       Como uma pequena parte da grande máquina que mantém a ciência rodando, compreendi, aos poucos, que divulgar ciência é uma responsabilidade de quem faz ciência. E além do senso de responsabilidade construído nesse sentido, o cenário político atual me despertou para a necessidade de divulgar ciência. Tanto pra que ela comece a ser valorizada nos diferentes setores da sociedade, de forma que isso se reflita em apoio e suporte, quanto para contribuir com a redução da manipulação de informações divulgadas que confundem a população.

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Gabriela Leal, em pose descontraída.

       3. Se você não pudesse ser cientista, o que você faria?

       Eu escolhi a medicina Veterinária porque amo o mundo animal e a atuação  da profissão em todas as suas nuances. E dentro dessa grande área, a minha escolha seria professora, sem dúvida.  Por conta da oportunidade de comunicar a ciência envolvida nos diferentes segmentos dessa profissão.

       4. Se você não pudesse ser cientista, o que você faria?

       A ciência nos responde perguntas, nos ajudando em algumas direções. Mas a forma como o método científico é imparcial, me ensina paciência no desvendar de um resultado e a percepção da condição de não controlar tudo.

       A divulgação científica me ensina a importância da conexão. Eu cresci ouvindo histórias e sempre fui maravilhada por elas desde criança. Justamente porque elas me conectavam com o comunicador. Em alguns momentos, era meu pai lendo pra mim. Em outros, minha avó trazendo histórias bíblicas e em outros, minha tia interpretando histórias. A conexão com o contador da história era o que me direcionada a ouvi-la. Ouvindo, eu entendia. Entendendo, eu me apaixonava.

A divulgação cientifica pra mim é como contar uma boa história. De forma que o ouvinte se conecte. E se conectando, ouça. E ouvindo, entenda. E entendendo, comece a dar valor.

       5. O que você gostaria que todo mundo soubesse sobre divulgação científica?

       Quando eu penso nos pares, ainda percebo como parte da academia não simpatiza com a divulgação científica. Como se traduzir ciência de uma forma mais simples, desmerecesse o trabalho científico ou como se quem fizesse isso, fosse menos cientista. Enquanto todos os cientistas se mantiverem na distante posição de únicos detentores do conhecimento, a forma como a ciência é vista nunca mudará, assim como sua valorização. Para esses pares, é importante que se perceba a divulgação científica como ela é: Uma necessidade e uma responsabilidade social.

       Acho que o que todos precisam saber é que a divulgação científica existe para que a sociedade compreenda a ciência e seja, de alguma forma, parte daquilo que é feito pra ela e financiado por ela.

       Pergunta bônus: se você tivesse que descrever sua experiência no FameLab através de um filme, qual seria e por quê?

Essa é difícil! Vou tentar...

       Tem um filme que eu amo, chamado DUELO DE TITÃS.  Se passa num colégio só de brancos em 71, na Virgínia. Onde um grupo de estudantes negros é forçado a ingressar e fazer parte do time de futebol americano também com um técnico negro. O filme mostra a tensão racial, e como os jogadores aprendem a trabalhar em equipe. No fim o time vence todos os jogos e a maior lição é o esforço daquele técnico em prol do bem maior: não vencer o campeonato. Mas sim, vencer a intolerância. Mostrar que brancos e negros podiam conviver com amizade e respeito numa época e local tão racistas.

       E por que isso? Eu nunca vi o FameLab como uma competição. Eu sempre vi como uma rede de colaboração. Como um time. Pessoas que conviveram juntas apesar das diferenças e que ensinaram e aprenderam umas com as outras.  É uma galera que trabalhou em equipe por um bem maior: Não ganhar a competição. Mas sim se preparar a fim de ir pro campo da realidade, onde está o verdadeiro duelo: as manipulações informativas, as fake news, a força do movimento anti-ciência e a oportunidade de combater toda a desinformação com divulgação científica.

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Você pode conferir as apresentações da Gabriela em:

Semifinal   

Final Brasil 

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